segunda-feira, 20 de maio de 2013

A vivência saudável da sexualidade




A sexualidade é uma parte do todo que é a intimidade, sendo esta última uma parte do todo que é uma relação amorosa. Assim, quando se fala de sexualidade deve-se também enquadrá-la juntamente com outras dimensões que estão (ou devem estar) presentes na construção de uma relação amorosa (assumindo a existência de uma relação interdependente entre as mesmas), incluindo as várias subdimensões da própria sexualidade. Não é objetivo deste texto explorar as dimensões inerentes à sexualidade, mas acima de tudo pretende contribuir para reflexões e discussões destas temáticas de uma forma mais completa e construtiva, combatendo as grandes barreiras do desenvolvimento, da vivência e do discurso da sexualidade. Mas, quais são as grandes barreiras da sexualidade? São, por um lado, a «alimentação social» de um sentido redutor deste conceito, resumindo-o exclusivamente ao ato genital, e ainda a recriminação dos discursos sobre esta temática (mesmo que sob a alçada de conhecimentos fidedignos, úteis e claros), levando a que mais facilmente se consolide o tabu que gira à sua volta; e, por outro lado, há o aproveitamento (e/ou necessidade) de algumas pessoas para se autoafirmarem sob a máscara de uma visão «aberta» ou «moderna» que, continuando a focar-se exclusivamente no ato genital, culmina numa arrogância e indelicadeza que de positivo não traz nada. Estas diferentes visões não são facilitadoras da aprendizagem de uma vida sexual saudável e de forma determinante impossibilitam um desenvolvimento pessoal e relacional equilibrado. Portanto, se a sociedade quer evoluir positivamente nesta área tem que deitar as barreiras abaixo e explorar o mundo multidimensional da sexualidade, abrindo-se ao conhecimento de forma responsável e séria (mas não sisuda, nem envergonhada, nem desavergonhada).
Neste momento a pergunta que pode estar a pairar na cabeça dos leitores é a seguinte: Se a sexualidade não é só o ato genital, afinal o que é a sexualidade? A exploração/descoberta do(s) corpo(s), as sensações, os sentidos, os sentimentos, a cumplicidade, a afetividade, as fantasias, o respeito, a complexidade relacional, a união, o desejo, o amor, a tolerância, a confiança, a amizade, a equidade, a compreensão, a aceitação e a socialização são alguns conceitos que cabem na definição de sexualidade e que se conciliam (ou se devem conciliar) na vivência e desenvolvimento da mesma, num processo (relacional) que se desenrola ao longo da vida (logo, o conhecimento e as competências exigidas devem ser trabalhadas desde cedo e durante toda a vida para que sejam parte integrante do desenvolvimento pessoal e relacional de todos nós). Efetivamente, para que a sexualidade seja vista e vivida com mais sabedoria tem que se considerar o ato genital apenas como uma parte do todo que é a sexualidade e que esta última não deve ser lida e vivida à sombra de uma exclusividade biológica, pois também deve contar com a psicologia e a sociologia (da sexualidade), entre outras áreas igualmente enriquecedoras. A vivência da sexualidade é mais favorecida quando não se pensa só num corpo saudável, mas também em todos os (muitos) aspetos que estão para além disso. Para que tal aconteça devemos saber, compreender e aceitar que somos (pelo menos) seres biopsicossociais (e não só seres biológicos). Desta forma, estaremos mais predispostos para aprendermos mais sobre nós próprios (e aceitarmo-nos como somos), sobre os outros (e aceitando-os como eles são), e adquirirmos competências para enfrentarmos os desafios que nos são colocados no dia-a-dia, ao nível pessoal e relacional, de forma mais eficaz. Consequentemente sentir-nos-emos e estaremos mais seguros, confiantes e responsáveis e os níveis de satisfação aumentarão consideravelmente, culminando numa vivência bastante prazerosa da sexualidade e de todas as outras dimensões igualmente importantes que estão presentes na vida de cada um e na sua relação com os outros.
Sem grande dificuldade conseguimos constatar que a criação e a evolução da vida (a nossa essência e a existência) estão intimamente ligadas à sexualidade. Basta pensarmos no processo que nos encaminhou para a (nossa) vida e em todo o processo desenvolvimental que vivenciamos com as figuras mais significativas da nossa vida. Por isso, não vejo razão para não falarmos aberta e responsavelmente sobre a sexualidade nos diversos contextos (educacionais) que nos vão transformando, ajudando a construir o nosso ser para um mundo de interações positivas (isto é, conhecedoras) com outras pessoas. Aliás, é fundamental que assim seja para que se viva a sexualidade de uma forma saudável. Temos a responsabilidade de afastar os tabus, os preconceitos, as crenças e os mitos à volta da sexualidade, que só levam a que as pessoas reproduzam comportamentos desajustados, manifestamente escusados e prejudiciais à sua vida, à dos outros e às dinâmicas relacionais com os outros. Qual a melhor maneira de atingirmos este (ambicioso) objetivo? Proponho começarmos a criar momentos de discussão e de reflexão junto da comunidade (dos mais jovens às pessoas com mais idade, com a devida adequação discursiva, considerando as etapas desenvolvimentais das pessoas e outras caraterísticas pertinentes do público-alvo). Assim, os pensamentos começarão a fluir positivamente neste campo, o que é essencial. A forma como pensamos a sexualidade influencia direta e significativamente os nossos comportamentos perante a mesma (isto é, a vivência da sexualidade), logo é fulcral para um desenvolvimento pessoal e social mais equilibrado a implementação de projetos de educação sexual ou, num âmbito mais alargado, projetos de educação para os relacionamentos ou para as relações interpessoais (abarcando o contexto escolar e familiar, através de iniciativas junto da comunidade). Projetos que têm que ser feitos com e para as pessoas e não através de métodos exclusivamente expositivos (e autocentrados numa boa performance pessoal).
A ação política tem uma palavra importante para dar neste campo, de preferência com o suporte de especialistas. Muitas visões políticas, que deveriam ser um meio propagador de ricos ensinamentos nesta matéria, não conseguem abarcar a importância desta mensagem e continuam a optar por se fecharem na ignorância e/ou no comodismo social e político-partidário, ou ainda mascarando as ações com (a insistência em) programas bastante incompletos e, muitas vezes, com efeitos nefastos (para a vivência da sexualidade), pelas escolhas que determinam para a liderança da aplicação dos mesmos. Não podemos aceitar que continuem a cair nos mesmos erros (ou nas mesmas ações deliberadamente erróneas) de não escutarem as pessoas mais competentes nestes campos de ação, que são aquelas que podem melhorar a educação (multidisciplinar) para a sexualidade. Todavia, contando ou não com a competência das entidades governativas, políticas e partidárias, devemos agir de uma forma proativa enquanto profissionais e cidadãos, assumindo uma posição clara e firme nos microcontextos da vida de cada um. Temos que acreditar que um dia todas as nossas ações traduzir-se-ão em modelos (com efeitos) muito positivos a uma escala mais alargada. Se não chegarmos tão longe, já é motivo de grande regozijo o enriquecimento (mútuo) que advém dos momentos de partilha com as pessoas, dos mais jovens aos mais idosos (que merecem ter uma vivência saudável da sexualidade).

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