Há
um vazio que mora em mim e eu sinto-o. Sinto-o e sei que é um grande vazio.
Vazio grande. Grande vazio estacionado no tempo. Tempo que está fora do tempo.
Tempo que pede uma vida. Vida que, bem vivida, é intemporal, infinita, eterna.
Eterna é a sensação e precoce é a vida vivida. Vivida esta vida que não tem
apenas dois dias. Dias a mais ou dias a menos, apenas um ou mais do que nenhum.
Nenhum dia é longo e todos eles não são curtos. Curtos são aqueles que logo
passam. Passam por mim, contornam-te a ti e ficam. Ficam apenas os salpicos da
chuva engrossada. Engrossada pelos movimentos estanques do teu corpo molhado.
Molhado pela alegria de uma vida nova que encosta nos teus braços. Braços
longos que refletem a extensão da tua cabeça e a amargura da futilidade das
modas. Modas e necessidades de aceitação e de valorização própria. Própria
mente que divaga por mundos já antes navegados e nunca pisados e apreciados.
Apreciados pelo caráter único do ser que sou. Sou autêntico(a) num lugar
algures perto do desconhecido. Desconhecido deserto que habita na minha massa
pensante. Pensante e angustiante na visão que não tem ou que não quer ser e
ver. Ver o viajante apaixonado que ensina e recolhe ensinamentos. Ensinamentos
mais duros do que superficiais. Superficiais dizeres e saberes validados pela
razão certa que de incerta se carateriza. Carateriza o lado mais afastado da
minha visão ou o lado ocupado com certezas incertas do mundo da grande visão.
Visão dura, mais próxima e mais desafiante. Desafiante pela descoberta contínua
e pela aceitação generalizada pela especialização demonstrada pelos pedaços da
imagem do mundo sensível. Sensível como o poeta que tem voz. Voz de poeta que
não bate certa. Certa como a forma do teu corpo que vagueia pelos pensamentos
do meu ser. Ser muito mais do que acredito ser e querer. Querer para ter no
espaço que falta preencher. Preencher no meu coração que bate lento no vazio e
acelera na presença do toque da tua mão. Mão que une para sempre o meu coração
ao teu. Teu encontro desencontrado com a minha solidão. Solidão que se afasta
quando tu chegas. Chegas perto de mim e eu peço-te, enternecido(a), «chega-te
mais!».
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