sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Os novos passos comigo mesmo(a). A rutura do relacionamento amoroso… E depois?



            Há relações amorosas que se esgotam ou, mesmo sem atingirem o «ponto final», os elementos do casal deixam de percecionar motivos fortes para a continuidade do seu relacionamento. É um forte impacto para o bem-estar individual, a curto prazo, pelo sofrimento que causa (na maior parte dos desfechos que põe fim à relação a dois), pelo aumento do stress, pela maior vulnerabilidade ao surgimento de desordens psicológicas, pela diminuição da satisfação com a vida, entre outras variadíssimas razões. Perante esta situação, as pessoas tentam reencontrar-se com o mundo e com as pessoas que foram sendo deixadas num segundo plano da sua vida (não raras vezes, tal aconteceu por exigência ou manipulação de um dos sujeitos do casal, aquando a vivência do relacionamento a dois, numa espécie de contrato de exclusividade, sem direito de opção). Todavia, ao mesmo tempo que pensam em «refazer a vida» (sozinhas e/ou com mais alguém, a ritmos necessariamente diferentes), há casos preocupantes em que reina o isolamento, a tristeza, os medos, a desmotivação, a autoculpabilização, a falta de esperança, a descrença num futuro feliz, entre tantos outros «fantasmas» que assolam a mente. Mesmo com o apoio dos(as) amigos(as) e da família, incentivando a «olhar para a frente», o peso do relacionamento que findou deixou grandes marcas e não permite que a mudança aconteça (a um ritmo razoável). Para além da procura de um profissional para ajudá-lo(a), se sentir essa necessidade, o que deve fazer?

            Algumas dicas para esta nova etapa:

- Se tiver que chorar, chore! Se tiver que gritar, grite! Se tiver que atirar algum objeto (não muito perigoso) para o chão, faça-o! Aceite as emoções e os sentimentos que percorrem o seu corpo e a sua mente, tal e qual elas vêm. Há pessoas que vão pensar ou chamá-lo(a) de louco(a), de frágil, ou até dizer ou pensar «eu já sabia que ia dar nisto!» (e, nalguns casos, culpabilizando-o(a) pelo desfecho). Aprenda a conviver com estes comentários e com os «não comentários», que se espelham num não verbal que parece que vem com legendas. A felicidade constrói-se no espaço que damos à livre expressão das nossas emoções.

- Pense nos vários «espaços» que a sua vida tem (por exemplo, sociais, desportivos e culturais), procurando fazer uma análise do que está vivo e de boa saúde e do que está desaparecido (há muito ou pouco tempo) ou muito mal cuidado. Há bastante trabalho pela frente? Ótimo! Comece a trabalhar! Invista em tudo aquilo que deixou na «gaveta do esquecimento» ou da «falta de tempo». Há muita vida dentro de nós, mas também há muita para além dela. A felicidade constrói-se nos diferentes contextos e atividades individuais e grupais em que nos envolvemos.

- Procure evidências das suas excelentes capacidades, evitando, por exemplo, a autoculpabilização (sobre tudo e mais alguma coisa), a descrença nas suas qualidades, a falta de esperança em novos projetos e a perceção de uma impossibilidade de voltar a ser feliz consigo próprio(a) e/ou com mais alguém (ou a ser verdadeiramente feliz com alguém). A felicidade constrói-se com a valorização de nós próprios.

- Saia de casa, conheça novas pessoas, conviva com colegas/amigos(as) de outros tempos, quebre rotinas, altere planos à última da hora para integrar programas ainda mais interessantes, evite desmarcar-se de tudo (com antecedência ou à última hora – ou seja, elimine as desculpas e os refúgios). Atenção! Tenha sempre em mente o objetivo de se divertir e não a obsessão de encontrar o príncipe ou a princesa encantada na primeira esquina. A felicidade constrói-se na relação com os(as) nossos(as) amigos(as) e com as outras pessoas que passam por nós, mesmo que pontualmente.

- Alimente realidades e não ilusões. Trace metas e objetivos concretizáveis e que gerem satisfação, não deixando de sonhar. Aprenda com o passado, altere o presente e nutra o futuro com o melhor de si. A felicidade constrói-se com a capacidade de sonharmos realisticamente, em que podemos voar com a mente e com o corpo.

- Não use a idade como ponto de referência para encurtar o caminho da felicidade. O importante é viver momentos felizes no dia-a-dia, pensando claramente numa estabilidade a médio e longo prazo (que está longe de significar «viver feliz a toda a hora e a todo o momento», porque a oscilação da satisfação com a vida é a realidade no quotidiano de todos nós – sem esta oscilação como poderíamos melhorar a nossa qualidade de vida e o nosso bem-estar?). Se pensar bem, independentemente da idade que tem, nunca sabe onde está o «fim da linha», por isso qual a razão de pensarmos que «já não vamos a tempo» ou que o «tempo está a andar contra nós»? A felicidade constrói-se quando valorizamos a vida no seu todo e a todo o momento, e não somente em determinados períodos ou épocas (por exemplo, só quando somos mais novos).

- Não gaste energias a procurar a «pessoa certa». O certo e o errado são conceitos bastante subjetivos, principalmente no que se refere aos relacionamentos amorosos, pela quantidade enormíssima de variáveis que influenciam a nossa vivência com a outra pessoa e pela interferência de imensos fatores na avaliação que fazemos da outra pessoa e da relação. Encontre-se a si próprio(a) e descubra, livremente, os novos mundos que vão presenteando a sua vida. Não esteja à procura na nova pessoa que entre na sua vida de uma atualização do(a) seu/sua «ex» (como uma atualização de software no âmbito tecnológico), em que exige dela as qualidades do(a) «ex» e o acrescento de novas, nem queira incutir ao novo elemento a missão principal ou exclusiva de colmatar as suas necessidades (daí a importância de, antes de partirmos para um novo relacionamento, darmos a oportunidade a nós próprios de nos encontrarmos). Lembre-se também que se iniciar um novo relacionamento não significa que está a assumir uma vida a dois para sempre, ou seja, pode percecioná-la como séria e duradoura, mas se erraram nesse passo, há sempre forma de corrigirem e não encare como um «destino enfadonho». A felicidade constrói-se com autoconhecimento e a abertura ao outro, no respeito pela sua diferença.

- Não se entupa de frases positivas que não sejam o reflexo das suas ações futuras (a curto prazo). A função delas é de mover para a ação. Se não se move para o concreto, corre o risco de ficar frustrado(a) por não ver resultados. A transformação pessoal, a mudança de comportamentos, é lenta e gradual, pelo que opte por dar um passo de cada vez. O desafio é mudar a atitude e o comportamento. A felicidade constrói-se com pensamentos ajustados aos atos.

- Apaixone-se (novamente) pela vida. Olhe ao espelho e veja o brilho da sua singularidade. Não há ninguém igual a si, pelo que a sua beleza é única. Agarre-se a isso e se alguém se quiser juntar e admirá-lo(a) por um período mais longo... A felicidade constrói-se com a consciência da nossa diferença e no respeito e admiração pela mesma, deixando aberta uma janela para alguém que queira partilhar connosco o amor que sente por ele(a) mesmo(a) e por nós, esperando, com toda a certeza, uma reciprocidade amorosa.

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