quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A espera esperançosa






O momento que se segue é uma narrativa direcionada para todas as pessoas que anseiam encontrar o amor da sua vida, para todas aquelas que se encontram na «frente de combate» para conquistar a pessoa desejada, para quem acredita (e valoriza todo o percurso percorrido) na relação que está a viver, e ainda para todas as pessoas que gostam da exploração, reflexão e vivência de relacionamentos amorosos. Espero não me ter esquecido de ninguém!
Este tipo de relacionamento interpessoal – a relação amorosa – está revestido com uma película singular que nos permite (autenticamente) aumentar e melhorar o autoconhecimento, dar o melhor de nós aos outros, explorar entusiasmadamente e concretizar muitos dos nossos sonhos enraizados há bastante tempo no «compartimento dos sonhos, desejos e vontades» e dos que vão sendo criados no seio da própria relação (para o «eu», o «tu» e o «nós»), o que faz com que nos apresentemos ao mundo com um bonito e genuíno sorriso nos lábios (e na alma). É precisamente na união e na fusão amorosa com alguém que a vida fica mais colorida, ajudando a criar o arco-íris da vida: a felicidade. Assim, a realização amorosa (fruto de uma verdadeira convivência) torna-se também uma realização pessoal e social, eliminando do nosso dia-a-dia a contínua frustração, a profunda tristeza e a solidão severa, caraterísticas de uma visão e vivência excessivamente virada para dentro de nós próprios (isto é, sozinhos e fechados no nosso mundo, sem permitirmos a entrada de mais alguém).
Feita a introdução, segue a justificação da motivação e da inspiração inerentes à criação deste texto. A motivação parte da assunção do conteúdo do parágrafo anterior, que converge com a minha crença e ambição em criar uma sociedade mais feliz, equilibrada e segura através do poder dos relacionamentos interpessoais, especialmente das relações amorosas (neste caso particular, com o contributo singelo de desafiar as pessoas a aumentarem o seu conhecimento e a refletirem sobre temáticas que estão presentes na sua caminhada existencial). A inspiração para a criação deste fragmento escrito emergiu de uma frase que foi extraída do livro Escrita Perecível, cujo autor é um exímio pensador, orador e escritor: Luís Fernandes. Porém, mantendo o respeito pela frase e pelo seu enquadramento original e o apreço e admiração pelo autor, vou intencionalmente desvirtuar a aplicação original da frase para poder encaminhá-la (essencialmente) para o mundo privilegiado das pessoas que procuram corajosamente o amor da sua vida e para aquelas que pensam fazê-lo «um dia destes». O segmente de texto que selecionei é o seguinte: «Esperar por alguém é o melhor modo de estar sozinho: parece sempre que é por pouco tempo». Após a sua leitura, podem surgir algumas perguntas. Qual o impacto desta frase nas relações amorosas? Considerando os relacionamentos amorosos, que mensagem pode estar implícita e explícita neste conjunto ordenado de palavras? Esperemos (pouco tempo) pelo próximo parágrafo, onde iniciarei a minha partilha interpretativa, a deambulação pela frase que me suscitou curiosidade e fascínio para refletir.  
O caminho que nos leva ao encontro da pessoa amada é feito com uma mochila bem pesada, carregada de expetativas e exigências que incutimos a nós próprios e aos outros. Este peso excessivo leva a que os nossos níveis de ansiedade subam e daí advém toda a sintomatologia típica destes estados (que, contudo, sofre algumas variações, ao nível da intensidade e frequência, de pessoa para pessoa). Todavia, o espaço de tempo mais temido e, simultaneamente, apetecido é quando está mesmo a chegar a hora em que duas pessoas combinaram encontrar-se num determinado local e em que pelo menos uma delas pretende declarar-se perante a outra, dizendo aberta e corajosamente o sentimento pulcro que nutre por ela. O calor que passa pelo nosso corpo nessa reta final, e que nos faz suar, acarreta também um peso exagerado nas pernas e o caminhar começa a ficar muito custoso. Nesta fase os pensamentos múltiplos em forma de questões começam a saltitar aceleradamente de neurónio em neurónio (uns estímulos super elétricos). Eis alguns exemplos: «Qual será a reação dele(a)?»; «Será a altura certa?»; «Será que gosta de mim?»; «Não farei figura de parvo(a)?»; «Estou bem vestido(a)?»; «Vou desiludi-lo(a)?»; «Será que ele(a) vai aparecer?»; «Terei coragem para lhe dizer o que sinto?»; «Qual a melhor maneira de abordá-lo(a)?»; «Como é que ele(a) vai reagir?»; «Talvez o melhor seja recuar?»; «Devo avançar logo?»; «Devo beijá-la(o)?»; «Será que vai gostar do beijo?»; «O que faço depois?»; «Está a demorar, devo esperar?». Estas questões inquietantes surgem com uma intensidade e frequência elevadas pouco antes de chegarmos ao local do encontro e no momento de espera. Ora, este é o termo que a frase citada atinge: a espera. Nós não estamos somente à espera de alguém, nós estamos à espera de uma pessoa que é um ser muito especial que queremos que faça parte da nossa vida para sempre. Se assim é, parece-me claramente o melhor modo de estarmos sozinhos. Se sabemos que a pessoa por quem esperamos é potencialmente o amor da nossa vida, não pode haver melhor espera. Naquele pedaço temporal estamos sozinhos, mas a esperança da espera é imensamente maravilhosa. E, se compararmos o tempo que esperamos nestes momentos com o tempo que demoramos para agir, ou com o tempo que teima em não acabar porque a ausência da outra pessoa na dita hora é real, ou ainda com aquele tempo que prolonga o sofrimento e alimenta o arrependimento pela falta de coragem para avançar (pela «não ação» ou «inação»), não há a mínima dúvida que o tempo que esperamos é mesmo curto, é pouco tempo. Por tal facto, é que esta espera é um bom modo de estarmos sós. Se considerarmos que esse momento deliciosamente belo de esperança amorosa pode ser um passo concretizador de uma vontade de viver para sempre connosco próprios e com mais alguém, o tempo está ganho. É por isso que não só é um bom modo de estarmos sós, como pode ser mesmo o melhor (como espelha a frase inspiradora deste texto). Assim, acredito que o encaixe interpretativo que criei partindo da frase (e para a frase) que destaquei no parágrafo anterior permite uni-lo ao leque de ações fundamentais para sermos felizes através da (con)vivência relacional e amorosa (de elevado regozijo). Por isso, não deixem para amanhã o que podem e devem dizer agora à pessoa que tanto desejam que se junte à vossa vida, e saibam esperar esperançosamente. Lembrem-se também que se a pessoa que tanto queremos junto de nós está a caminhar no sentido inverso ao nosso, numa determinada altura (ao contrário do que esperamos e desejamos), não significa que é impossível ou pouco provável que um dia se volte a cruzar connosco e que dessa vez fique apaixonada e amorosamente ao nosso lado. 
Portanto, se estiverem solitários/as, esperem sempre por alguém porque é mesmo o melhor modo de estarem sozinhos/as, desde que deixem a esperança e a coragem engrandecer e colorir a vossa vida. A espera deve, assim, assumir-se como consequência de comportamentos proativos e não de atos passivos (ou de «inação»), ou seja, esperem pelos resultados dos vossos atos corajosos, da vossa iniciativa (de «avançar»), mas não esperem grandes resultados dos vossos atos medrosos, passivos ou comodistas (de «não avançar» ou de «recuar»). Se estão no momento de decisão para usufruir do tão ansiado momento de espera, já sabem o que devem fazer: avançar. Se estão no momento de espera a que me refiro é porque decidiram avançar, por isso não recuem agora que estão tão perto. Se esperaram e o resultado não foi o esperado, lembrem-se que a vida premeia os corajosos. Se não tentar, só vai alimentar ilusões que o/a podem perturbar durante longos anos («Se eu tivesse avançado naquela altura talvez fosse mais feliz!»). Se continuar a tentar (naturalmente, e não de forma forçada e obsessiva), mesmo que sofra várias quedas na prossecução da sua vontade, há sempre o dia em que o prémio vai chegar (desde que valorize os presentes que a vida lhe dá, que nem sempre têm a forma que nós esperamos porque por vezes estamos do lado de quem espera e noutras vezes vamos nós ao encontro de alguém que está à nossa espera). Decida avançar, não recue no momento-chave e não desista de ser feliz junto da pessoa que tem um significado muito especial para a sua vida.

Nota: Não só devemos valorizar a espera quando estamos à procura de alguém. Também devemos valorizá-la quando já estamos envolvidos numa relação amorosa. É bem melhor esperar pelo outro que vai chegar do trabalho, que vai chegar do jantar com os(as) amigos(as) ou que vai chegar da viagem, que por motivos profissionais levou a que a sua ausência física fosse prolongada, do que estar à espera de ninguém ou querer estar à espera de alguém mas nada fazer para que tal aconteça, para que essa pessoa chegue efetivamente.

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