O
momento que se segue é uma narrativa direcionada para todas as pessoas que
anseiam encontrar o amor da sua vida, para todas aquelas que se encontram na
«frente de combate» para conquistar a pessoa desejada, para quem acredita (e
valoriza todo o percurso percorrido) na relação que está a viver, e ainda para
todas as pessoas que gostam da exploração, reflexão e vivência de
relacionamentos amorosos. Espero não me ter esquecido de ninguém!
Este
tipo de relacionamento interpessoal – a relação amorosa – está revestido com
uma película singular que nos permite (autenticamente) aumentar e melhorar o
autoconhecimento, dar o melhor de nós aos outros, explorar entusiasmadamente e
concretizar muitos dos nossos sonhos enraizados há bastante tempo no
«compartimento dos sonhos, desejos e vontades» e dos que vão sendo criados no
seio da própria relação (para o «eu», o «tu» e o «nós»), o que faz com que nos
apresentemos ao mundo com um bonito e genuíno sorriso nos lábios (e na alma). É
precisamente na união e na fusão amorosa com alguém que a vida fica mais
colorida, ajudando a criar o arco-íris da vida: a felicidade. Assim, a
realização amorosa (fruto de uma verdadeira convivência) torna-se também uma
realização pessoal e social, eliminando do nosso dia-a-dia a contínua
frustração, a profunda tristeza e a solidão severa, caraterísticas de uma visão
e vivência excessivamente virada para dentro de nós próprios (isto é, sozinhos
e fechados no nosso mundo, sem permitirmos a entrada de mais alguém).
Feita
a introdução, segue a justificação da motivação e da inspiração inerentes à
criação deste texto. A motivação parte da assunção do conteúdo do parágrafo
anterior, que converge com a minha crença e ambição em criar uma sociedade mais
feliz, equilibrada e segura através do poder dos relacionamentos interpessoais,
especialmente das relações amorosas (neste caso particular, com o contributo
singelo de desafiar as pessoas a aumentarem o seu conhecimento e a refletirem
sobre temáticas que estão presentes na sua caminhada existencial). A inspiração
para a criação deste fragmento escrito emergiu de uma frase que foi extraída do
livro Escrita Perecível, cujo autor é
um exímio pensador, orador e escritor: Luís Fernandes. Porém, mantendo o
respeito pela frase e pelo seu enquadramento original e o apreço e admiração
pelo autor, vou intencionalmente desvirtuar a aplicação original da frase para
poder encaminhá-la (essencialmente) para o mundo privilegiado das pessoas que
procuram corajosamente o amor da sua vida e para aquelas que pensam fazê-lo «um
dia destes». O segmente de texto que selecionei é o seguinte: «Esperar por alguém é o melhor modo de estar
sozinho: parece sempre que é por pouco tempo». Após a sua leitura, podem
surgir algumas perguntas. Qual o impacto desta frase nas relações amorosas?
Considerando os relacionamentos amorosos, que mensagem pode estar implícita e
explícita neste conjunto ordenado de palavras? Esperemos (pouco tempo) pelo
próximo parágrafo, onde iniciarei a minha partilha interpretativa, a
deambulação pela frase que me suscitou curiosidade e fascínio para refletir.
O
caminho que nos leva ao encontro da pessoa amada é feito com uma mochila bem
pesada, carregada de expetativas e exigências que incutimos a nós próprios e
aos outros. Este peso excessivo leva a que os nossos níveis de ansiedade subam
e daí advém toda a sintomatologia típica destes estados (que, contudo, sofre
algumas variações, ao nível da intensidade e frequência, de pessoa para
pessoa). Todavia, o espaço de tempo mais temido e, simultaneamente, apetecido é
quando está mesmo a chegar a hora em que duas pessoas combinaram encontrar-se
num determinado local e em que pelo menos uma delas pretende declarar-se
perante a outra, dizendo aberta e corajosamente o sentimento pulcro que nutre
por ela. O calor que passa pelo nosso corpo nessa reta final, e que nos faz
suar, acarreta também um peso exagerado nas pernas e o caminhar começa a ficar
muito custoso. Nesta fase os pensamentos múltiplos em forma de questões começam
a saltitar aceleradamente de neurónio em neurónio (uns estímulos super
elétricos). Eis alguns exemplos: «Qual será a reação dele(a)?»; «Será a altura
certa?»; «Será que gosta de mim?»; «Não farei figura de parvo(a)?»; «Estou bem
vestido(a)?»; «Vou desiludi-lo(a)?»; «Será que ele(a) vai aparecer?»; «Terei
coragem para lhe dizer o que sinto?»; «Qual a melhor maneira de abordá-lo(a)?»;
«Como é que ele(a) vai reagir?»; «Talvez o melhor seja recuar?»; «Devo avançar
logo?»; «Devo beijá-la(o)?»; «Será que vai gostar do beijo?»; «O que faço
depois?»; «Está a demorar, devo esperar?». Estas questões inquietantes surgem
com uma intensidade e frequência elevadas pouco antes de chegarmos ao local do
encontro e no momento de espera. Ora, este é o termo que a frase citada atinge:
a espera. Nós não estamos somente à espera de alguém, nós estamos à espera de
uma pessoa que é um ser muito especial que queremos que faça parte da nossa
vida para sempre. Se assim é, parece-me claramente o melhor modo de estarmos
sozinhos. Se sabemos que a pessoa por quem esperamos é potencialmente o amor da
nossa vida, não pode haver melhor espera. Naquele pedaço temporal estamos
sozinhos, mas a esperança da espera é imensamente maravilhosa. E, se
compararmos o tempo que esperamos nestes momentos com o tempo que demoramos
para agir, ou com o tempo que teima em não acabar porque a ausência da outra
pessoa na dita hora é real, ou ainda com aquele tempo que prolonga o sofrimento
e alimenta o arrependimento pela falta de coragem para avançar (pela «não ação»
ou «inação»), não há a mínima dúvida que o tempo que esperamos é mesmo curto, é
pouco tempo. Por tal facto, é que esta espera é um bom modo de estarmos sós. Se
considerarmos que esse momento deliciosamente belo de esperança amorosa pode
ser um passo concretizador de uma vontade de viver para sempre connosco
próprios e com mais alguém, o tempo está ganho. É por isso que não só é um bom
modo de estarmos sós, como pode ser mesmo o melhor (como espelha a frase
inspiradora deste texto). Assim, acredito que o encaixe interpretativo que
criei partindo da frase (e para a frase) que destaquei no parágrafo anterior
permite uni-lo ao leque de ações fundamentais para sermos felizes através da
(con)vivência relacional e amorosa (de elevado regozijo). Por isso, não deixem
para amanhã o que podem e devem dizer agora à pessoa que tanto desejam que se
junte à vossa vida, e saibam esperar esperançosamente. Lembrem-se também que se
a pessoa que tanto queremos junto de nós está a caminhar no sentido inverso ao
nosso, numa determinada altura (ao contrário do que esperamos e desejamos), não
significa que é impossível ou pouco provável que um dia se volte a cruzar
connosco e que dessa vez fique apaixonada e amorosamente ao nosso lado.
Portanto,
se estiverem solitários/as, esperem sempre por alguém porque é mesmo o melhor
modo de estarem sozinhos/as, desde que deixem a esperança e a coragem
engrandecer e colorir a vossa vida. A espera deve, assim, assumir-se como
consequência de comportamentos proativos e não de atos passivos (ou de
«inação»), ou seja, esperem pelos resultados dos vossos atos corajosos, da
vossa iniciativa (de «avançar»), mas não esperem grandes resultados dos vossos
atos medrosos, passivos ou comodistas (de «não avançar» ou de «recuar»). Se
estão no momento de decisão para usufruir do tão ansiado momento de espera, já
sabem o que devem fazer: avançar. Se estão no momento de espera a que me refiro
é porque decidiram avançar, por isso não recuem agora que estão tão perto. Se
esperaram e o resultado não foi o esperado, lembrem-se que a vida premeia os
corajosos. Se não tentar, só vai alimentar ilusões que o/a podem perturbar
durante longos anos («Se eu tivesse avançado naquela altura talvez fosse mais
feliz!»). Se continuar a tentar (naturalmente, e não de forma forçada e
obsessiva), mesmo que sofra várias quedas na prossecução da sua vontade, há
sempre o dia em que o prémio vai chegar (desde que valorize os presentes que a
vida lhe dá, que nem sempre têm a forma que nós esperamos porque por vezes
estamos do lado de quem espera e noutras vezes vamos nós ao encontro de alguém
que está à nossa espera). Decida avançar, não recue no momento-chave e não
desista de ser feliz junto da pessoa que tem um significado muito especial para
a sua vida.
Nota: Não só
devemos valorizar a espera quando estamos à procura de alguém. Também devemos
valorizá-la quando já estamos envolvidos numa relação amorosa. É bem melhor
esperar pelo outro que vai chegar do trabalho, que vai chegar do jantar com os(as)
amigos(as) ou que vai chegar da viagem, que por motivos profissionais levou a
que a sua ausência física fosse prolongada, do que estar à espera de ninguém ou
querer estar à espera de alguém mas nada fazer para que tal aconteça, para que
essa pessoa chegue efetivamente.

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