domingo, 4 de agosto de 2013

O poder da zanga e da reconciliação




            
          Nem todas as mensagens que se passam devem fazer emergir reflexões complexas, mas isso não significa que sejam menos importantes. Dentro desta lógica, quero deixar uma mensagem bem simples. Desejo profundamente que todas as relações tenham zangas. Não estou a falar de quaisquer zangas. Refiro-me a todas aquelas que estão recheadas e revestidas com originalidade, criatividade, humor, seriedade e responsabilidade, e não as rotineiras (que só existem para envenenar o mundo das relações). Se estão prestes a zangar-se, lembrem-se destes ingredientes. Saliento, porém, que a zanga de que estou a falar não fere a relação, nem as pessoas. A zanga deste tipo torna a relação mais forte e mais satisfatória. Se querem modelos para aprenderem a bem zangar-se, sigam os seguintes passos: em primeiro lugar, «afastem-se» das pessoas que nunca se zangam (ou que dizem nunca zangar-se) e também daquelas em que a zanga é sisuda e que rapidamente se transforma numa regra desregrada; em segundo lugar, aproximem-se dos casais que bem se zangam (que não amuam verdadeiramente, nem se tornam perigosamente agressivos); em terceiro lugar, treinem a zanga para que no dia da mesma saiam as palavras e os gestos mais adequados; em quarto lugar, depois deste treino, improvisem muito para que possam surpreender; em quinto e último lugar, criem os vossos próprios passos, organizem-nos à vossa maneira e não se esqueçam de bem zangar. Mas, o que é bem zangar? Zangar a bem zangar implica o seguinte: que duas pessoas estejam a comunicar; que os membros do casal estejam atentos um ao outro; que ambos consigam perceber que o «outro» tem atitudes e comportamentos diferentes dos seus; que os dois compreendam que a zanga permite negociar e ajustar a convivência; que os intervenientes se respeitem cada vez mais com o passar dos dias (e dos anos); que o casal consiga enfrentar todos os desafios da sua vida de uma forma bastante positiva e construtiva (o poder da generalização para outros contextos). Que fique claro que não estou a falar de uma «zanga cor-de-rosa», estou a falar de uma zanga a sério que deve ter sempre na sua base o respeito pelo outro (por vezes magoa, mas nunca deve ferir). Só esta permite que depois surja a genuína e desejada reconciliação. Quem não gosta do momento mágico de reconciliação? A mágoa transforma-se numa vontade emotiva de proximidade que tão bem alimenta a intimidade das relações. Portanto, tenham sempre espaço e tempo para as zangas e reconciliem-se com cada vez mais intensidade amorosa. Depois, com algum distanciamento, brinquem com as situações, riam-se muito e sejam felizes!

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