Nem todas as mensagens que se passam
devem fazer emergir reflexões complexas, mas isso não significa que sejam menos
importantes. Dentro desta lógica, quero deixar uma mensagem bem simples. Desejo
profundamente que todas as relações tenham zangas. Não estou a falar de
quaisquer zangas. Refiro-me a todas aquelas que estão recheadas e revestidas
com originalidade, criatividade, humor, seriedade e responsabilidade, e não as
rotineiras (que só existem para envenenar o mundo das relações). Se estão
prestes a zangar-se, lembrem-se destes ingredientes. Saliento, porém, que a
zanga de que estou a falar não fere a relação, nem as pessoas. A zanga deste
tipo torna a relação mais forte e mais satisfatória. Se querem modelos para
aprenderem a bem zangar-se, sigam os seguintes passos: em primeiro lugar,
«afastem-se» das pessoas que nunca se zangam (ou que dizem nunca zangar-se) e
também daquelas em que a zanga é sisuda e que rapidamente se transforma numa
regra desregrada; em segundo lugar, aproximem-se dos casais que bem se zangam
(que não amuam verdadeiramente, nem se tornam perigosamente agressivos); em
terceiro lugar, treinem a zanga para que no dia da mesma saiam as palavras e os
gestos mais adequados; em quarto lugar, depois deste treino, improvisem muito
para que possam surpreender; em quinto e último lugar, criem os vossos próprios
passos, organizem-nos à vossa maneira e não se esqueçam de bem zangar. Mas, o
que é bem zangar? Zangar a bem zangar implica o seguinte: que duas pessoas
estejam a comunicar; que os membros do casal estejam atentos um ao outro; que
ambos consigam perceber que o «outro» tem atitudes e comportamentos diferentes
dos seus; que os dois compreendam que a zanga permite negociar e ajustar a
convivência; que os intervenientes se respeitem cada vez mais com o passar dos
dias (e dos anos); que o casal consiga enfrentar todos os desafios da sua vida
de uma forma bastante positiva e construtiva (o poder da generalização para
outros contextos). Que fique claro que não estou a falar de uma «zanga
cor-de-rosa», estou a falar de uma zanga a sério que deve ter sempre na sua base
o respeito pelo outro (por vezes magoa, mas nunca deve ferir). Só esta permite
que depois surja a genuína e desejada reconciliação. Quem não gosta do momento
mágico de reconciliação? A mágoa transforma-se numa vontade emotiva de
proximidade que tão bem alimenta a intimidade das relações. Portanto, tenham
sempre espaço e tempo para as zangas e reconciliem-se com cada vez mais
intensidade amorosa. Depois, com algum distanciamento, brinquem com as
situações, riam-se muito e sejam felizes!

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