«Gostará ele de mim tanto
quanto eu gosto dele?»
«Gostará ela de mim tanto
quanto a Julieta gosta do João?»
«Quanto amor será ele capaz de me dar?»
«Serei capaz de lhe dar tanto
amor quanto ela me dá a mim?»
Há
pessoas que ambicionam adquirir um medidor
de amor para que possam comparar o que cada um sente pelo outro. Qual a
percentagem, qual o peso, qual a medida, qual a quantidade, ou outra expressão
qualquer que simbolize algo quantificável e comparável. Haverá uma medida certa
de amor que ditará a satisfação na relação amorosa? Será importante haver
igualdade na dose de amor? Existirá algum meio fiável dessa medição? Acredito
que nada disto é pertinente para equacionar numa relação amorosa.
Se
refletirmos por uns instantes, conseguiremos concluir que os indivíduos são
todos diferentes entre si, as relações são todas diferentes nas suas múltiplas
combinações e, para «dificultar» ainda mais, a própria relação oscila por fora
e por dentro ao longo do(s) tempo(s) (quer por fatores internos, quer por
fatores externos). Por isto, parece-me evidente que não é minimamente razoável
andarmos a medir o amor do nosso companheiro ou da nossa companheira e
compará-lo com o nosso e com o dos outros. Considero mais enriquecedor o
trabalho sobre as nossas ações na construção da (identidade da) relação, ou
seja, o nosso foco de ação deve incidir nas experiências que vivemos, no
significado que damos a elas, nas conquistas efetuadas, nas perdas, nos erros,
nos excessos, na euforia, nos medos, entre outras situações típicas de
vivências interpessoais. Devemos viver a relação, sentir o outro, desejá-lo e
amá-lo com a nossa expressão do amor que é única e especial (nem menor, nem
maior que a do outro, apenas diferente). Desta forma respeitaremos o outro, a
relação e estaremos mais abertos para aceitar e valorizar o(s) amor(es) na
nossa vida. Também começaremos a viver mais perto da realidade e mais distantes
da ilusão (ou das ilusões), sem comprometermos o imaginário individual e comum
(eventualmente, até o potenciamos). É um investimento na qualidade da relação,
ao invés de uma aposta, tendencialmente frustradora, em aspetos quantitativos
da mesma (muitas vezes irreais e destruidores de um bom desenvolvimento do
relacionamento em causa).
Em
jeito de síntese: a quantidade certa de amor é sempre aquela que está viva nos
momentos presentes do dia-a-dia de um relacionamento amoroso, sem nunca
esquecer o trabalho diário e árduo da construção de um relacionamento deste
tipo e evitando alimentar obsessões provenientes de modelos societais demasiado
detalhistas, rígidos, absolutistas, parecendo provirem do campo da ficção. Para
mim, a quantidade certa de amor é a sua, desde que aja quotidianamente em prol
do bem-estar da relação amorosa, respeitando e aceitando o outro, a si próprio
e ainda o respeito e aceitação de um desenvolvimento saudável da relação
amorosa que se quer empolgadamente dinâmica (num ritmo dançante entre dois
enamorados). Simplificando a mensagem: sejamos mais flexíveis e tolerantes no
«mar do amor» (que não deve ser confundido com alheamento dos objetivos comuns,
sentimentos, pensamentos e emoções da relação e falta de exigência para consigo
próprio, para com o parceiro e para com a relação) para que a satisfação não
seja utópica e a frustração seja apenas ocasional.
Nota:
Diferente é colocar a seguinte questão: «Será que ele/ela ainda me ama e quer
continuar a construir comigo a nossa relação amorosa?».
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