São
sete horas da manhã. O nascer do sol abrilhanta a humanidade. Há boas condições
para um dia inesquecível. Uma bela menina parece ter acordado com muita energia
no corpo e imensa atividade na mente. Despertou da dimensão do sono e dos
sonhos para enfrentar um desafio real, mas apenas sabe que há um momento
imperdível que espera por si. Não quer evitá-lo por nada deste mundo. O sentido
desta missão é uma incógnita e não existem informações sobre a direção mais
acertada. Mesmo assim (ou por isso mesmo), o seu olhar determinado move-a para
a ação. Garante para si mesma que vai optar pelo caminho certo. Decide montar a
sua bicicleta e prepara-se para viajar um número incerto de quilómetros. Vai
chegar perto de algo majestoso. É o que ela diz intuir. A curiosidade leva-a a
acelerar a cadência das pedaladas. O seu sorriso ilumina o caminho que
percorre. Chega ao (primeiro) destino. Está a sair da bicicleta e o seu olhar
mira uma maravilhosa árvore. É gigante! Parece interminável de tão alta que é.
O tronco é imensamente largo e as raízes visíveis são imponentes. A jovem
esbelta, com lágrimas no rosto, esboça um sorriso ardente. Está emocionada com
tamanha beleza natural. Começa a tirar os sapatos. Os seus pés, desprovidos de
qualquer proteção, pisam a terra rugosa que orgulhosamente circunda a árvore. O
seu corpo frágil junta-se à grande preciosidade da natureza e com os braços dá
um forte e sentido abraço, parecendo estar a esticá-los ao máximo para que
possam tocar-se. Eles não são suficientemente longos, nem as mãos são muito
compridas, mas a sua alma grandiosa consegue sentir a união das extremidades
dos membros superiores. Os olhos fecham-se e a cabeça encosta-se com carinho,
parecendo procurar ouvir os latejos desta antiguidade da natureza. Chega-se a
ela e deixa-se estar. Várias sensações percorrem o seu corpo, sentimentos
profundos deslizam na superfície da sua pele, umas quantas palpitações
energizam os contornos da sua alma e uma revigorização do espírito emana luz
pelos seus pensamentos. É a vivência de uma realidade pura, natural, envolvente
e segura. A doce donzela está a deixar que o Tempo viaje até si e transforme
este dia num templo dedicado a toda a sua vida. Deixando a árvore no lugar
dela, não se esquecendo de transportá-la no seu apaixonado coração, decide
continuar pelo percurso que para a consciência se rege pela aleatoriedade.
Vejo-a a seguir os traços invisíveis das raízes da árvore. Estes são iluminados
pela luz do seu rasgado sorriso. Descalça pela terra e de olhar compenetrado
recebe uma mensagem intuitiva que acredita na existência de um pequeno espaço
que espera por si. Quase parecendo que a intuição transforma a realidade,
rapidamente aparece o que foi antecipado. E a suposição e a crença vestem-se de
certezas incontornáveis. Está mesmo ali! Ela não hesita. Está a firmar o seu
vestido branco, parcialmente floreado, num chão que não parece ter vindo a
acompanhar ao longo dos tempos a paisagem assimetricamente chamativa, tal é a
forma peculiar que apresenta. Parece ajustar-se à medida da encantadora
senhora. Os pés nus assentam no chão, os joelhos direcionam-se para o céu azul
e os cotovelos apoiam-se nos mesmos. Que encaixe sublime! O seu olhar indica a
seleção do foco de atenção para um novo elemento (não sei se inesperado): um
rio. A água é tão límpida e cintilante que mais parece um mar paradisíaco com
uma admirável estreita relação de vinculação ao reflexo de um céu estrelado
numa noite de luar. Acaba de fechar os olhos, inspira profundamente, expira
lentamente e tenta imaginar o que poderá estar na outra margem de um rio que se
apresenta infindavelmente extenso e secretamente intenso. O seu corpo está
relaxado, a sua mente está a viajar e a paisagem que a rodeia respira em
uníssono. A serenidade do rio permite presentear a audição com o bater das asas
das borboletas brancas que voam sedutoramente. Até o colibri esverdeado,
parando deliberadamente os movimentos das suas asas, pousa elegantemente na
mais bela flor (que aguarda por um beijo carinhoso) para deliciar os seus
sentidos na harmonia temporal presente. Após algum tempo de meditação neste
contexto melodioso natural, ao abrir os olhos, parece-lhe escutar um sussurro
que deixa as seguintes palavras plantadas: «as pedras lascadas num caminho
escondido são meras lágrimas de um belo sorriso». Curiosa com o enigma,
proveniente de uma incerteza certamente entusiasmante, levanta a cabeça e está
a ver no rio um caminho feito de pedras. Umas pedras castanhas que parecem
pedaços de madeira cuidadosamente cortados e colocados em cima de pedras muito
pequenas e informes. Estas últimas sustentam uma ponte invulgar, natural e
imperfeitamente construída, quase parecendo uma linha tracejada à espera de ser
unida pelas pisadas de um ser feminino amadurecido. Ela levanta-se, aproxima-se
e aprecia o trajeto, quando subitamente uma folha corpulenta cai tranquilamente
em cima do seu ombro esquerdo. Escrito num formato de recortes, a folha tem uma
pequena mensagem: «O caminho da inocência». Parece um título de uma viagem pelo
desconhecido. Não poderia ser mais estimulante (e talvez inquietante)! Ela não
recua. Segue a passagem que atravessa o rio ou uma ambiência que bem pode ser
um corpo em estado líquido que penteia o passadouro. Pedra ante pedra vai dando
os seus passinhos de candura, revelando o seu ser de bravura, num caminho que
acredita conduzir à felicidade. As pedras parecem magoar a planta do pé, mas a
sua vontade suplanta qualquer dor. Quando está quase a chegar à outra margem,
numa via que não parece ter fim, vem uma forte rajada de vento. Ele sopra, mas
não a faz cambalear. Sente-o como se uma mão forte segurasse suavemente no seu
ombro direito e os dedos de outra mão acariciassem os seus longos cabelos. A
afetuosidade de mais este elemento natural fá-la levantar a cabeça e os seus
olhos veem um foco solar que ofusca parcialmente o terreno da outra margem. As
lágrimas estão novamente a cair do seu rosto, como que a brindar o seu olhar em
chamas, e um sorriso ainda mais belo e contagiante é esboçado. Ela grita
alegremente, «És tu, meu amor?», proferindo uma ordenação de palavras em molde
de pergunta cuja resposta não parece querer procurar. Ela, simplesmente,
avança. Talvez para o início de uma história inacabada de um amor impossível.
Talvez para o início de uma história inacabada de um amor infinito. Talvez para
o início de uma história inacabada de um amor atingível. Talvez para o início
de uma história inacabada de um amor bonito.
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