A
Carolina confessou-me e pediu-me, à sua maneira, para partilhar:
«Todos os dias penso nele. Não estou a
brincar, nem a exagerar. Todos, mesmo todos. Os lábios doces que não senti e a
chama luminosa que sempre esteve presente. Mais ninguém a via, mais ninguém a
sentia. Apenas eu! Desfrutei dos bons dias que passei com ele, sorrindo
apaixonada, cedendo o interior mais profundo do meu ser através do meu olhar.
Ele retribuiu e depois, num dia marcadamente especial, fizemos a nossa
despedida. Ali, naquele momento, foi o dia do nosso desencontro. Porquê? Não
sei! Talvez um dia venha a saber. Talvez. Só sei que todos os dias penso nele.
Não sei se ele todos os dias pensa em mim, mas sei que nalgum momento há-de
pensar com carinho. Agora não sei, mas já teve dias na sua vida que pensou com
muita paixão, mas não avançou. Medo? Destino? Vou confessar. Eu quero voltar a
encontrá-lo para ficar com ele para sempre. O meu marido, por quem nutro um
carinho enorme, não sabe. É a minha história secreta. Agora estou a partilhar
consigo. A primeira pessoa com quem me consegui abrir. Sabe, há uma coisa que
me deixa feliz. Ele casou e encontrou uma mulher que o deixa imensamente feliz.
Isso custa-me! Amando-o, estando há dias sem fim apaixonada por ele, custa-me! São
anos em que diariamente ele está comigo, no meu pensamento, no meu coração, na
minha alma, dentro de mim. Eu digo para mim própria que fico feliz com o melhor
para ele e vejo-o a viver uma relação feliz. Estou a mentir para comigo mesma? Não
sei. É confuso. Eu acho que estou feliz por vê-lo feliz e não odeio a mulher
dele porque parece fazê-lo muito feliz, mas eu quero-o para mim, não pela
posse, claro! Quero-o, no futuro, junto do meu peito. Quero viver intensamente
um amor que está cá. É difícil viver assim! A espera dilacera o meu coração,
mas a esperança de um reencontro verdadeiro abre-me um sorriso. Ao mesmo tempo,
vejo-o tão apaixonado e desejo que seja muito feliz. Questiono-me se este amor
é mesmo para ser vivido ou apenas para ser sentido! Sei que não quero forçar
nada. Sinto que não devo fazê-lo. Mas, talvez, nunca senti nada assim na minha
vida e é difícil aceitar que tão poderosa energia não possa ser partilhada com
ele. Não sei se estou aqui consigo para pedir ajuda. Talvez queira apenas
desabafar por não aguentar mais guardar dentro de mim. É difícil viver isto
sozinha! Talvez queira que, já que estou aqui a dizer-lhe tudo isto, partilhe
com alguém e talvez essas palavras cheguem ao coração dele. Pode fazê-lo? Não
precisa responder. Eu sei que vai fazê-lo. Como poderia pensar outra coisa?
Estou aqui a partilhar algo tão genuíno e profundo… Já viveu algo assim? Não é
que procure respostas, mas estou aqui a falar e talvez tenha uma história
semelhante para partilhar comigo. Não precisa de fazê-lo. Esteja à sua vontade.
Sabe, às vezes penso se haverá algo maior do que o amor. O que sinto por ele é
tão… diferente! É algo incontrolavelmente bom, mas, ao mesmo tempo, esta
ausência de resposta, esta dúvida, este tempo que passa, esta relação feliz que
ele está a viver… Não sei. Estarei a alimentar uma ilusão? Não é nenhuma
obsessão, lhe garanto. Não estou doente. Apenas quero viver o que não vivi.
Aliás, o que não vivemos. O que sinto é muito mais forte que um ato de egoísmo.
Eu quero partilhar com ele e sei que ele também tem muito para partilhar
comigo. Seja lá o que esse “muito” possa ser. É poderoso, é avassalador, é
autêntico, é insubstituível, é mágico! O cheiro, o toque, o sorriso, a voz, a
forma de ver o mundo, o coração belo, … como poderia esquecer? Sabe, um dia
talvez o encontre e possa viver com ele tudo o que sinto. Até porque, pensando
bem, ainda temos muita coisa para falar. Na despedida ele deu-me algo muito
especial, que ainda guardo comigo e… Amanhã posso voltar cá?».
Seria
ingrato, injusto e abusivo comentar esta partilha, sendo a Carolina real ou
fictícia. O máximo que posso fazer é dizer o seguinte: obrigado pela leitura. Querem
saber se ela voltou no dia seguinte? Lamento, mas neste momento não estou
autorizado a dizer…
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